quinta-feira, 4 de junho de 2015

Estátua de Lenine derrubada em Kharkiv


A praça central de Kharkiv é a maior praça da Europa. Tem uma grande zona de empedrado, seguida de um largo jardim. Ao redor existem avenidas muito largas, onde passam poucos carros.




No centro da praça, tem estado desde há muitas décadas a estátua de Lenine, a relembrar os gloriosos tempos da União Soviética Comunista em que a escassez era tanta que uma pessoa precisava de passar horas nas filas em frente às lojas para conseguir comprar laranjas e papel higiénico.

Tem estado mas já não está.
Em Setembro do ano passado, os ucranianos de Kharkiv, fartos de ver a figura do Lenine, simbolizando o domínio russo sobre a Ucrânia, bem no centro da sua ironicamente chamada “Praça da Liberdade”, decidiram derruba-la e substitui-la pela bandeira da Ucrânia.

Estátua de Lenine em Kharkiv, Março de 2014 - @Steve Evans
Junho de 2015


Este vídeo mostra um pouco de como é que isto se passou:




Estádio do Metalist

O estádio do Metalist em Kharkiv foi um dos 4 estádios ucranianos que acolheram do Euro 2012.
Aqui jogou-se o Holanda - Dinamarca, o Holanda - Alemanha e o Portugal – Holanda.
Um estádio, agora moderno, em tudo parecido ao que podemos encontrar em qualquer outro país da Europa.

Quando lá estive estava a decorrer a final da Liga Universitária da Ucrânia.
Apesar de não ser um jogo profissional nem estar nenhuma equipa de Kharkiv a jogar, era possível ver umas 2 000 pessoas a assistirem ao jogo. E isto por volta das 3 da tarde num dia normal de trabalho. A entrada era gratuita.






Nas prédios circundantes ao estádio ainda estão colocadas grandes faixas com mensagens às equipas que aqui vieram jogam durante o europeu.  



Tentativa de revolução independentista em Kharkiv

Em Abril de 2014 deram-se os mais sérios confrontos independentistas em Kharkiv desde o início do escalar da tensão entre a Rússia e a Ucrânia.

Quando estava no meu albergue em Kharkiv conheci um rapaz de Kiev, de língua materna russa e completamente ucraniano, que me contou como é que isto se passou. Dizia ele:
“ - Uma coisa é a língua. A minha língua materna é o russo, mas eu também falo ucraniano. Outra coisa é o meu país – A Ucrânia.”

Um certo dia de manhã chegaram a Kharkiv umas 2000 pessoas vindas de outros pontos da Ucrânia. O propósito era protestarem contra o sistema vigente e revoltarem-se a favor de um governo pró-russo em Kharkiv.
Houve alguns protestos e muitas pessoas reuniram-se num grande edifício no centro da cidade. A situação na cidade esteve bastante tensa durante esse dia e noite.

No dia seguinte, estes manifestantes, vindos de longe, repararam que todos os seus líderes haviam desaparecido. Assim ficaram sem sabem bem o que fazer, onde e como protestar, e sobretudo a quem cobrar aqueles dias de “trabalho”.
Sendo assim acabaram por se ir embora e a confusão acabou por se dissipar.

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Pelo que fiquei a saber o que se passou foi o seguinte.
Kharkiv é uma cidade relativamente grande, contudo a chegada de uns milhares de pessoas, todos homens, com muito bom cabedal e cara de mau, dificilmente poderia passar despercebida.
Kharkiv fica num canto da Ucrânia e as estradas em muitos sítios são mesmo muito más, pelo que é bem provável, que uma boa parte desta maralha tenha chegado de comboio, passando assim pela estação dos comboios, que são sempre pontos bem vigiados.
Além do mais, em Abril de 2014 já havia a experiência do que se estava a passar em Donetsk, e o governo da Ucrânia estava atento ao que poderia acontecer em outros pontos críticos do pais.

Mal os serviços mais ou menos secretos da Ucrânia souberam da chegada destes manifestantes a Kharkiv, enviaram imediatamente forças especiais para a cidade, as quais chegaram a Kharkiv nessa mesma noite.

Durante a noite estes prenderam 75 cabecilhas que estavam a organizar os protestos. E no dia seguinte e todos aqueles titushkas ficaram sem saber o que fazer.

Depois deste incidente houve alguns rebentamentos de bombas em Kharkiv mas sem causar feridos graves ou mortos.

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Assim, graças à rápida actuação dos serviços secretos ucranianos e das forças especiais, esta revolução pró-russa não deu em nada e a cidade tem vivido num clima de relativa calma. Se intervenção não tivesse sido tão rápida e assertiva é bem possível que Kharkiv estivesse agora a experiênciar um clima de devastação semelhante ao que se vive hoje em dia nas regiões de Donetsk e Lugansk.

quarta-feira, 3 de junho de 2015

Os comboios Intercidades da Ucrânia

Uma boa surpresa que encontrei na Ucrânia foram os comboios rápidos Intercidades.

Fiz os 500 km que separam Kiev e Khrakiv em apenas 4 horas e 35 minutos.
Tendo comprado o bilhete no próprio dia, paguei 10 euros pelo bilhete de 2ª classe.


Um comboio super confortável, em tudo semelhante aos comboios rápidos que podemos encontrar em qualquer outro sítio a Oeste da Ucrânia. A única diferença que encontro é que o comboio é mais largo do que os seus semelhantes europeus, mas isso é também devido ao facto de os carris dos países da antiga união soviética terem uma bitola mais larga do que o que é comum no centro da Europa.
Estes comboios são mais um legado do Euro 2012.

Comboios Intercidades Kiev - Kharviv 




segunda-feira, 1 de junho de 2015

Restaurante em Chernivtsi

Estive em alguns bares e restaurantes em Chernivtsi.
O que achei mais interessante foi o "Goira”. É um restaurante bastante bem decorado e segundo me contaram os meus contactos em Chernivtsi de bastante boa fama.




A coisa mais peculiar é que o restaurante tem um armário particular para guardar as canecas dos clientes mais habituais. Ou seja, os clientes mais regulares ( ou seja, mais ricos ), têm direito a uma caneca de cerveja particular, que os distingue dos restantes cliente.
Eu não me imagino a usar uma dessas canecas, o que a meu ver não é mais do que um adorno de riqueza, mas seguramente que há quem aprecie a ideia.


Neste restaurante são todos bem-vindos, excepto cães, hambúrgueres, e também matrioscas e porquinhos da Rússia. 



Chernivtsi

Chernivtsi é uma das maiores cidades do sudoeste da Ucrânia.
A seguir a Lviv, é uma das mais bonitas cidades da Ucrânia. Isto não é mera coincidência, uma vez que, tal como Lviv, Chernivtsi foi governada e desenvolvida pelos austríacos durante grandes períodos de tempo.







No passado, Chernivtsi, foi o ponto de encontro entre vários povos, nomeadamente, austríacos, ucranianos, romenos e também polacos.

Hoje em dia, Chernivtsi é uma cidade onde se fala maioritariamente russo.
Nos dois dias em que estive em Chernivtsi praticamente só ouvi falar russo, embora por vezes não conseguisse discernir bem em que língua é que as pessoas à minha volta estavam falavam.

Contudo, apesar de Chernivtsi ser uma cidade onde se fala maioritariamente russo, de forma alguma eles querem ser vistos como russos. Nas ruas há muitos símbolos da Ucrânia e todos os postos de iluminação das principais ruas de Chernivtsi têm as cores da Ucrânia pintadas.






sexta-feira, 29 de maio de 2015

Protestos independentistas em Odessa

No ano passado, entre a Primavera e o Verão, houve alguns violentos protestos independentista, pró-russos em Odessa.
Odessa é uma cidade ucraniana onde se fala maioritariamente russo.
Eu não sei exactamente o que é que os manifestantes queriam, mas devia ser algo como uma maior autonomia ou independência em relação ao governo central de Kiev e se calhar poderem passar a fazer parte da Rússia, a possibilidade de poderem usar a língua russa em documentos oficiais (o que é proibido na Ucrânia), entre outras coisas.

A algazarra desfez-se em um ou dois dias.
No final dezenas de manifestantes foram presos e interrogados.
Feitas as investigações, ficou-se a saber que estes manifestantes, que protestavam fervorosamente pelos direitos dos habitantes de Odessa, eram praticamente todos originários de regiões distantes como Donetsk ou Crimeia, ou mesmo do estrangeiro - da Moldávia.
Manifestantes de Odessa, não havia praticamente ninguém.




quinta-feira, 28 de maio de 2015

Pontes fantasma da Ucrânia

Depois de uns dias em Kiev, viajei de carro até Odessa, no Mar Negro.
Apesar dos quase 500 km de distância, a viagem não foi demasiado longa, uma vez que a estrada até estava em razoáveis condições. Na maior parte do trajeto quase se assemelhava a uma auto-estrada. Um trajeto quase em linha reta através da ampla planície do centro da Ucrânia.

Ao longo da viagem passei por dezenas, sim dezenas (!), de pontes inacabadas sobre a via rápida onde viajávamos.

Porquê tantas pontes começadas a construir e quase nenhuma acabada?
Pelo que me contou o Pacha, que ia a conduzir, é tudo obra das politiquices ucranianas.
Estas pontes fantasma são relativamente recentes, dos finais da década de 2000 - foram criadas algures entre o tempo em que Yushchenko[2005-2010] e Yanukovych[2010-2014] estavam no poder.

A construção destas travessias sobre as vias rápidas foi uma muito badalada promessa eleitoral.
A construção de dezenas de pontes começou em força; depois entretanto o dinheiro ou acabou ou desapareceu - sempre devido a uma muito boa justificação, como por exemplo a alta do preço do petróleo ou a crise externa - e pronto ... ficou tudo pendurado.


E porquê dezenas de pontes começadas e nenhuma terminada?
Estas pontes foram adjudicadas não a uma ou duas, mas sim a várias empresas de construção civil. Desta forma todas receberam algum dinheiro para arrancar com as obras, mas não o suficiente para as terminar.

Porquê adjudicar obras a muitas empresas em vez de o fazer a uma única?
A grande vantagem que há em contratar muitas empresas em vez de uma só é a de poder deixar “vários amigos” com dinheiro no bolso, em vez de apenas um.

Para mim estas pontes inacabadas são a parte mais visível da corrupção que se vive no dia-a-dia da Ucrânia.









terça-feira, 26 de maio de 2015

Atravessando o rio Dnipro deslizando numa corda

Uma das coisas mais divertidas que fiz em Kiev foi atravessar o rio Dnipro, pendurado numa corda, fazendo uma descida tirolesa.





domingo, 24 de maio de 2015

Titushka

Titushka é uma palavra que entrou recentemente no dicionário ucraniano.
É utilizada para definir pessoas ou gangues pagos para espalhar a confusão entre ambientes/protestos aparentemente pacíficos.

O palavra Titushky foi criada a partir do nome de um homem que entretanto se tornou bastante conhecido pelos piores motivos.

Em Maio de 2013, um jornalista foi espancado por 3 homens nas imediação de um protesto anti-governamental, o qual era supostamente um protesto pacifico.
Após esta agressão e outros incidentes, o protesto passou a ser visto pela comunicação social como um protesto violento de pessoas sem quaisquer princípios.
Passado algum tempo, estes homens foram presos, sendo Vadym Titushko o líder deste pequeno gangue.
Depois de várias investigação, o juiz do tribunal declarou como provado que Vadym Titushko, tinha sido contratado pelo governo - com Yanukovych no poder - para criar distúrbios e tornar o tal protesto pacifico (inconveniente para o governo), num protesto violente de gente sem escrúpulos.

E desta forma, Vadym Titushko, tornou-se numa pessoa extremamente famosa na Ucrânia.

sexta-feira, 22 de maio de 2015

As cores da Ucrânia

Quando mais viajo pela Ucrânia, mais me apercebo de que de facto não são só bandeiras da Ucrânia que se vêem espalhadas por todo o lado.

Tudo um pouco aparece de quando em vez pintado com as coisas da Ucrânia – azul e amarelo:
Gradeamentos, roupas, telhados, balizas de futebol, bancos de jardim, vasos de flores ...

Banco em Lviv
Ponte em Kolochava



Onde eu noto a maior diferença é mesmo em Kiev, uma vez que como estive aqui há dois anos atrás, posso comparar as diferenças. Na primavera de 2013, quando estive pela primeira vez em Kiev não me lembro de ter visto todo este azul e amarelo espalhado um pouco por toda a cidade.

Portão em Kiev







Tudo parece estar pintado de fresco.

A mensagem é clara. Os ucranianos não querem ser confundidos com os russos e de forma alguma querem deixar que a Ucrânia seja 'vista' como fazendo parte da Rússia.

quinta-feira, 21 de maio de 2015

Comboio noturno para Kiev

Foi o meu último dia em Lviv, e é altura de rumar para outras paragens.

A estação dos comboios de Lviv foi uma boa surpresa. Uma pequena estação, que pelo estilo arquitetónico é mais do que evidente que foi construida pelos austríacos, no tempo do Império Austro-húngaro. 

Estação dos comboios de Lviv
Apesar de serem 11 da noite havia uma grande azafama e bastante trânsito junto à estação.

Tudo estava relativamente bem explicito e organizado, com os nomes e horários dos comboios bem visíveis nos mostradores eletrónicos e com indicações escrita e sonoras em ucraniano e em inglês. Isto é uma amostra do desenvolvimento que o Europeu de futebol de 2012 trouxe para Lviv.


Fiquei numa cabine com mais 3 pessoas. A Ludumila e o Alex, regressavam a Kiev, onde trabalham, depois de um fim-de-semana prolongado de férias em Lviv. Ambos falavam muito bem inglês. 


A cama era razoavelmente confortável, mas tal como me é habitual nesta situações, não consegui dormir rigorosamente nada. 




Cheguei a Kiev às 7 da manhã e vou ficar por aqui nos próximos dias.

quarta-feira, 20 de maio de 2015

Cortejo militar fúnebre em Lviv

Lviv é uma cidade bastante bonita e tranquila, e em geral, quando está bom tempo há sempre muitos turistas a passear pelas zonas históricas da cidade.

Mas entretanto a guerra continua no Leste.
Hoje ia a passar pela rua Teatralna, quando me deparei com um cortejo militar fúnebre vindo da Igreja de Sãos Pedro e Paulo.
Estavam lá várias dezenas de militares e muitos mais populares.



Inicialmente fiquei na dúvida de seria adequado tirar fotografias, mas depois reparei que havia mais de uma dezenas de jornalistas da rádio e da televisão.
Pelo que consegui apurar ao falar com uma jornalista, o corpo que ia a enterrar pertencia a um jovem militar de Lviv que tinha morrido recentemente no confrontos do leste da Ucrânia.


Pelo que consegui ler inscrito no caixão, ele tinha 22 anos.
Depois o cortejo segui em direção a Ocidente [penso que para o cemitério Lychakiv, onde jazem dezenas de corpos de outros soldados ucranianos que morrem recentemente na Guerra do Leste.]

Cemitério de Lychakiv em Lviv, onde estão sepultados várias dezenas de soldados ucranianos que morram recentemente na guerra do Leste da Ucrânia.